Tudo Por Um Anel - Capítulo 02
“Quando nada mais der certo, improvise.” (Francis Karsaeras)
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Completamente suado e ofegante, não via o ponto mudar de tamanho. Meu Deus será que ele não chega nunca? Neste exato instante, ouvi um estrondo assustador vindo do caminho que acabo de percorrer. A água que batia nas minhas canelas praticamente some. Aproveito a chance e o medo para disparar na direção da luz que só agora resolveu aumentar gradativamente de tamanho. E cresce de tal maneira a ponto de me tornar uma minúscula formiga frente a um portão de uma catedral. Contudo, outro estrondo maior do que o anterior. Já não sei mais se o frio que sinto na espinha é do corpo molhado ou do susto do barulho. Paro de correr na mesma hora e arrisco um olhar amedrontado para trás, quando estou a ponto de chegar ao final do caminho. Não preciso ver para saber que todo o largo túnel foi tomado por uma onda gigantesca. Na mesma hora, parto que nem um doido para o fim do caminho, e quando sou capaz de ver o céu azulado, o chão foge aos meus pés. E que se dane a não indicação de quanto o tempo correu.
Pendurado na borda do túnel apenas com a mão direita, eu tento não me afogar com a quantidade de água caindo na minha cara. Depois de muita luta, eu consigo ter apoio das duas mãos. Cego por causa da luminosidade repentina, tudo o que faço é me erguer de volta para o túnel, enquanto aperto os olhos para tentar recuperar a visão o mais rápido possível. Não sei se foi por sorte, mas por hora somente sou capaz de escutar o barulho do vagalhão, a cada momento se torna mais e mais ensurdecedor. Finalmente, minha visão volta e posso olhar o ambiente ao redor. Fico sem palavras. É impressionante. Um longo paredão de concreto que se estende por uma altura que não tenho como calcular, até atingir um belíssimo espelho de águas cristalinas. Neste, vejo o reflexo da muralha de concreto encontrando-se com o azul do céu permeado de nuvens esparsas. A floresta que se estende de ambas as margens do lago que se estreita a poucos quilômetros à frente tem seu espaço no reflexo e se mantêm assim até se perderem de vista. Montanhas erguem-se no horizonte, emoldurando o Sol alaranjado que está nascendo por entre elas, tendo nuvens delicadamente vermelhas como um teto natural. No paredão, percebo outras saídas com a que estou, mas são poucas e muito distante uma da outra. Todavia, sou acordado da letargia pelo brado do vento provocado pela força que a água se aproxima. E pouco importa agora se o tempo não me indica se correu.
Na minha primeira lei de sobrevivência “Quando nada mais der certo, improvise.” é precisamente seguida à risca. Mesmo que a chance de dar certo seja nula, mas se é o seu caminho, siga-o (“It’s your path, follow it”). Em uma breve corrida para dentro do túnel, tomo a maior distância que pude. Sou capaz de ver a onda se aproximando e com ela vejo o tamanho do túnel. Fantástico. Cabe um prédio de três andares aqui e ainda dá para fazer o terraço com piscina e churrasqueira. “Bom, só se vive uma vez”, penso. Imprimo as pernas toda a força que possuo naquele momento e ultrapasso meus limites. Exatamente na borda do túnel, abro os braços e me permito por um instante me sentir como Ícarus. Se bem que o resultado foi idêntico, mas desconfio que ele deva ter subido um pouco mais do que eu. Poucos instantes depois, a explosão vinda do buraco que acabei de saltar mostra a magnitude da onda. Olho para trás e o medo aflora. Montanhas de concreto vêm em minha direção e atrás delas uma cortina de água que chega a eclipsar o Sol. E meu grito não podia ser diferente: “Fudeeeuuuu!!!”. E pela primeira vez tenho noção da fração de dos instantes que se passaram.
Instantes eternos, por sinal. A cada bloco que não me acertava, uma chama de esperança de sobreviver acendia. A cada sombra do próximo, a mesma apagava. Logo, o que eu tinha era uma verdadeira boate. Ao sentir as primeiras gotas me atingirem, arrisco um olhar para cima, e vejo a Morte surfando. Não tenho mais escapatória, pois a onda me alcançou. Todas as lembranças passam na minha mente de uma única vez. Apenas um rosto fica. E sou capaz de ouvir o seu grito implorando para que eu não morra. É a última coisa que ouvi com clareza, pois depois disso, o silêncio reinou absoluto. Nada mais importava. O corpo, entregue ao instinto primal de sobrevivência, reage torcendo-se para não tomar o impacto de uma única vez. E o tempo não mais existe.
Se eu quisesse, poderia abraçar a cachoeira e cavalgar nela de tão perto que passou. Mas era tanta a quantidade de água caindo que tive minha interminável queda abreviada. E se não fosse pelas rochas que chovia ao meu redor, a minha vida também. Usando o vácuo da maior pedra que consegui alcançar, colei sobre ela e esperei a porrada na água. Escapar de um lugar que nem sei como fui chegar, depois de uma onda assassina oriunda do nada acompanhada de uma chuva de concreto, e agora sobreviver a essa queda sem fim é abusar demais da sorte. Só que eu nunca desisto, e quando surto e saio do controle, o meu corpo desconhece o significado disso. Cedo ou tarde, o impacto ocorre. Só que o tempo que isso leva não é mensurável.
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Última foto fornecida pela Flah, dona do blog Sparkler.
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Completamente suado e ofegante, não via o ponto mudar de tamanho. Meu Deus será que ele não chega nunca? Neste exato instante, ouvi um estrondo assustador vindo do caminho que acabo de percorrer. A água que batia nas minhas canelas praticamente some. Aproveito a chance e o medo para disparar na direção da luz que só agora resolveu aumentar gradativamente de tamanho. E cresce de tal maneira a ponto de me tornar uma minúscula formiga frente a um portão de uma catedral. Contudo, outro estrondo maior do que o anterior. Já não sei mais se o frio que sinto na espinha é do corpo molhado ou do susto do barulho. Paro de correr na mesma hora e arrisco um olhar amedrontado para trás, quando estou a ponto de chegar ao final do caminho. Não preciso ver para saber que todo o largo túnel foi tomado por uma onda gigantesca. Na mesma hora, parto que nem um doido para o fim do caminho, e quando sou capaz de ver o céu azulado, o chão foge aos meus pés. E que se dane a não indicação de quanto o tempo correu.
Pendurado na borda do túnel apenas com a mão direita, eu tento não me afogar com a quantidade de água caindo na minha cara. Depois de muita luta, eu consigo ter apoio das duas mãos. Cego por causa da luminosidade repentina, tudo o que faço é me erguer de volta para o túnel, enquanto aperto os olhos para tentar recuperar a visão o mais rápido possível. Não sei se foi por sorte, mas por hora somente sou capaz de escutar o barulho do vagalhão, a cada momento se torna mais e mais ensurdecedor. Finalmente, minha visão volta e posso olhar o ambiente ao redor. Fico sem palavras. É impressionante. Um longo paredão de concreto que se estende por uma altura que não tenho como calcular, até atingir um belíssimo espelho de águas cristalinas. Neste, vejo o reflexo da muralha de concreto encontrando-se com o azul do céu permeado de nuvens esparsas. A floresta que se estende de ambas as margens do lago que se estreita a poucos quilômetros à frente tem seu espaço no reflexo e se mantêm assim até se perderem de vista. Montanhas erguem-se no horizonte, emoldurando o Sol alaranjado que está nascendo por entre elas, tendo nuvens delicadamente vermelhas como um teto natural. No paredão, percebo outras saídas com a que estou, mas são poucas e muito distante uma da outra. Todavia, sou acordado da letargia pelo brado do vento provocado pela força que a água se aproxima. E pouco importa agora se o tempo não me indica se correu.
Na minha primeira lei de sobrevivência “Quando nada mais der certo, improvise.” é precisamente seguida à risca. Mesmo que a chance de dar certo seja nula, mas se é o seu caminho, siga-o (“It’s your path, follow it”). Em uma breve corrida para dentro do túnel, tomo a maior distância que pude. Sou capaz de ver a onda se aproximando e com ela vejo o tamanho do túnel. Fantástico. Cabe um prédio de três andares aqui e ainda dá para fazer o terraço com piscina e churrasqueira. “Bom, só se vive uma vez”, penso. Imprimo as pernas toda a força que possuo naquele momento e ultrapasso meus limites. Exatamente na borda do túnel, abro os braços e me permito por um instante me sentir como Ícarus. Se bem que o resultado foi idêntico, mas desconfio que ele deva ter subido um pouco mais do que eu. Poucos instantes depois, a explosão vinda do buraco que acabei de saltar mostra a magnitude da onda. Olho para trás e o medo aflora. Montanhas de concreto vêm em minha direção e atrás delas uma cortina de água que chega a eclipsar o Sol. E meu grito não podia ser diferente: “Fudeeeuuuu!!!”. E pela primeira vez tenho noção da fração de dos instantes que se passaram.
Instantes eternos, por sinal. A cada bloco que não me acertava, uma chama de esperança de sobreviver acendia. A cada sombra do próximo, a mesma apagava. Logo, o que eu tinha era uma verdadeira boate. Ao sentir as primeiras gotas me atingirem, arrisco um olhar para cima, e vejo a Morte surfando. Não tenho mais escapatória, pois a onda me alcançou. Todas as lembranças passam na minha mente de uma única vez. Apenas um rosto fica. E sou capaz de ouvir o seu grito implorando para que eu não morra. É a última coisa que ouvi com clareza, pois depois disso, o silêncio reinou absoluto. Nada mais importava. O corpo, entregue ao instinto primal de sobrevivência, reage torcendo-se para não tomar o impacto de uma única vez. E o tempo não mais existe.
Se eu quisesse, poderia abraçar a cachoeira e cavalgar nela de tão perto que passou. Mas era tanta a quantidade de água caindo que tive minha interminável queda abreviada. E se não fosse pelas rochas que chovia ao meu redor, a minha vida também. Usando o vácuo da maior pedra que consegui alcançar, colei sobre ela e esperei a porrada na água. Escapar de um lugar que nem sei como fui chegar, depois de uma onda assassina oriunda do nada acompanhada de uma chuva de concreto, e agora sobreviver a essa queda sem fim é abusar demais da sorte. Só que eu nunca desisto, e quando surto e saio do controle, o meu corpo desconhece o significado disso. Cedo ou tarde, o impacto ocorre. Só que o tempo que isso leva não é mensurável.
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Última foto fornecida pela Flah, dona do blog Sparkler.
3 Comentários:
Por falar em anel...
Olha isso:
http://www.youtube.com/watch?v=JnUvw1rzziE
Esse seria o final se fosse jogado pelo povo.
muito mais agradavel ler com esse monte de imagens...
beijocas bonitinhooooooo
*gargalhadas*
É o irmão do James Bond né?!
Abraço
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