O Autor:
Avatar dinâmico em testes

Nome: Francis Karsaeras
Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, BR
Idade: 25 Anos
Características: Inexplicavelmente, passa sufoco quando chove e em testes psicotécnicos, sem causa aparente.
Signo: Gêmeos, mas faz diferença?
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Expandir || Contrair

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domingo, setembro 17, 2006

Tudo Por Um Anel - Capítulo 03


“Idéias absurdas e desesperadas, que não são resultado da lógica e sim fruto do subconsciente, em geral dão certo.” (Francis Karsaeras)
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Não tenho a menor idéia do que me levou a pensar nisso, mas é engraçado como a água do espelho d’água é bem mais quente e agradável do que a de dentro daquele local sombrio. Ei, para pensar uma besteira dessas é sinal que estou vivo. E normal. Bem, normal nem tanto, mas o que isso importa? O que interessa agora é: EU NÃO TENHO GUELRAS E PRECISO RESPIRAR. Se aqui está escuro, isso quer dizer que estou mais de duzentos metros abaixo da superfície. Meu Deus, por que nada na minha vida é fácil e que coisa absurda é essa de eu ter que lutar o tempo todo até o fim?

Começo a subir para buscar um pouco de ar, lutando contra correntes que teimam em me puxar para o fundo do lago. Quando alcanço uma zona onde a luz solar conseguiu chegar, noto o motivo de ter ido a uma profundidade tão grande. Um pouco adiante, bemna minha frente, durante a minha subida ininterrupta, vislumbro algo incrível. A água ainda não parou de cair, deste modo isso acabou gerando uma cachoeira subaquática. Mas o que a torna diferente são os cardumes que nadam ao redor dela em espiral. Peixes das mais variadas cores e tamanhos parecem voar harmonicamente dentre as inúmeras bolhas de diferentes diâmetros provocadas pela força da água. Pedras menores serviam de moldura natural para o quadro visto. Como não tenho barbatana, logo meu lugar não é aqui. A luz fica cada vez mais forte, minha visão cada vez mais turva e meu corpo cada vez mais fraco. Enquanto isso, o tempo não indica o quanto correu.

O ar é incrivelmente adocicado quando infla meus pulmões. Apesar de detestar boiar, fico igual a uma vitória-régia sobre o lago recuperando minhas forças, ao mesmo tempo em que curto o Sol esquentando meu corpo. Se algum sapo estacionar na minha barriga para caçar mosca, vai virar meu almoço. Mesmo odiando sapos, quando o Cavaleiro do Apocalipse Fome ordena, o garotão aqui somente obedece. A ondulação provocada pela cachoeira me empurra para a margem sem esforço algum da minha parte. Aproveito para me desligar de tudo e me concentro nas memórias. Desisto de tentar lembrar como parei naquele buraco, fixando nas imagens mais recentes, em especifico numa delas. A que me deu forças para não me entregar. E guardo para mim esse doce momento tão fundo dentro do meu coração que todo o resto é irrelevante. O tempo para mim poderia não precisaria prosseguir mais, mas ele o faz, só não me diz o quanto.

Por padrão, não há tranqüilidade na minha vida. É uma confusão atrás da outra. Foi só abrir os olhos na margem para ver uma ponta de espada cintilando ao Sol bem entre os meus olhos, deixando-me vesgo. Após a situação de fazer uma careta ridícula, a ponta desce até encostar na minha garganta. Acompanhando o fio da mesma, encontro quem a possui. Bom, seria uma visão feminina das mais agradáveis se a hostilidade não fosse gritante em tão belo rosto. Fica claro que ambos esperam quem vai dar o primeiro movimento, e muito óbvio quem continuará respirando. Um farfalhar de folhas na mata desvia a direção do olhar dela uma fração de segundos. Tempo o suficiente que um cara acuado pudesse reagir dando um forte tapa na lateral da espada e rolar na direção oposta. Ainda acho que ela não queria um espetinho meu, só saber se eu reagiria. Mas a madame era uma tigresa e partiu para a porrada sem espada, sei lá porquê. Seria ótimo rolar na areia com aquela gata selvagem tatuada nos locais certos, só que ela estava levando vantagem e tive que engrossar com um tremendo murro na cara. Entretanto, ela finalizou a briga com uma joelhada bem no dito cujo e quase me deu perda total. Lá, quando dói, o tempo não passa e nem a dor.

Outras apareceram e me levaram amarrado (como se eu fosse resistir!!!) por um caminho na mata para um lugar que nem faço idéia de qual foi, tudo o que sei era que havia uma escada esquisita quase no final dele. Quando a dor abrandou bem no final da curta jornada, vi qual era o tamanho da merda que ia enfrentar. Junto a um altar muito semelhante à mesa de operações com um kit-cirurgia-churrasco-relâmpago “A Boa De Hoje” ao lado do platô onde eu estava sendo devidamente atado estava uma doida gostosa com um diáfano mais decotado que o vestido da Cher na entrega do Oscar com sorriso de açougueira, várias seguidoras capa de playboy disputando quem tinha menos roupa. Ok, era uma ótima visão antes de morrer, mas ruim é descobrir que vai ter um banquete e péssimo saber que EU era o prato principal. Meu medo nessa hora era saber se eu seria assado, frito, cozido ou um seria churrascão. Tentei sugerir uma chopada e quase perdi a língua. Devidamente atado no altar de cirúrgia, a doida mor chega ao meu ouvido e fala: “Quer um último pedido?” com aquela voz melosa de quem está louca para dar. Homem que é homem é foda. Até antes de morrer só pensa em sacanagem. Respondi o que e quem queria todo bobo. Murphy que é Murphy é foda. Ela atendeu o quê, mas não quem. A criatura que me apareceu deu-me forças para arrebentar as amarras e dar no pé dali, para o assombro de todas. Mas nem morto que eu encaro aquela mistura de dragão, mamute e tartaruga. Tenho dúvidas se aquilo era mulher mesmo e nem quero arriscar. E toma outra corrida insana. Desta vez, flechas cheirando a veneno, pedras, lanças e Deus-sabe-o-quê na forma humanóide supostamente fêmea pronta para a procriação atrás de mim. Socorro, só quero um tempo a mais para fugir.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Tudo Por Um Anel - Capítulo 02

“Quando nada mais der certo, improvise.” (Francis Karsaeras)
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Completamente suado e ofegante, não via o ponto mudar de tamanho. Meu Deus será que ele não chega nunca? Neste exato instante, ouvi um estrondo assustador vindo do caminho que acabo de percorrer. A água que batia nas minhas canelas praticamente some. Aproveito a chance e o medo para disparar na direção da luz que só agora resolveu aumentar gradativamente de tamanho. E cresce de tal maneira a ponto de me tornar uma minúscula formiga frente a um portão de uma catedral. Contudo, outro estrondo maior do que o anterior. Já não sei mais se o frio que sinto na espinha é do corpo molhado ou do susto do barulho. Paro de correr na mesma hora e arrisco um olhar amedrontado para trás, quando estou a ponto de chegar ao final do caminho. Não preciso ver para saber que todo o largo túnel foi tomado por uma onda gigantesca. Na mesma hora, parto que nem um doido para o fim do caminho, e quando sou capaz de ver o céu azulado, o chão foge aos meus pés. E que se dane a não indicação de quanto o tempo correu.

Pendurado na borda do túnel apenas com a mão direita, eu tento não me afogar com a quantidade de água caindo na minha cara. Depois de muita luta, eu consigo ter apoio das duas mãos. Cego por causa da luminosidade repentina, tudo o que faço é me erguer de volta para o túnel, enquanto aperto os olhos para tentar recuperar a visão o mais rápido possível. Não sei se foi por sorte, mas por hora somente sou capaz de escutar o barulho do vagalhão, a cada momento se torna mais e mais ensurdecedor. Finalmente, minha visão volta e posso olhar o ambiente ao redor. Fico sem palavras. É impressionante. Um longo paredão de concreto que se estende por uma altura que não tenho como calcular, até atingir um belíssimo espelho de águas cristalinas. Neste, vejo o reflexo da muralha de concreto encontrando-se com o azul do céu permeado de nuvens esparsas. A floresta que se estende de ambas as margens do lago que se estreita a poucos quilômetros à frente tem seu espaço no reflexo e se mantêm assim até se perderem de vista. Montanhas erguem-se no horizonte, emoldurando o Sol alaranjado que está nascendo por entre elas, tendo nuvens delicadamente vermelhas como um teto natural. No paredão, percebo outras saídas com a que estou, mas são poucas e muito distante uma da outra. Todavia, sou acordado da letargia pelo brado do vento provocado pela força que a água se aproxima. E pouco importa agora se o tempo não me indica se correu.

Na minha primeira lei de sobrevivência “Quando nada mais der certo, improvise.” é precisamente seguida à risca. Mesmo que a chance de dar certo seja nula, mas se é o seu caminho, siga-o (“It’s your path, follow it”). Em uma breve corrida para dentro do túnel, tomo a maior distância que pude. Sou capaz de ver a onda se aproximando e com ela vejo o tamanho do túnel. Fantástico. Cabe um prédio de três andares aqui e ainda dá para fazer o terraço com piscina e churrasqueira. “Bom, só se vive uma vez”, penso. Imprimo as pernas toda a força que possuo naquele momento e ultrapasso meus limites. Exatamente na borda do túnel, abro os braços e me permito por um instante me sentir como Ícarus. Se bem que o resultado foi idêntico, mas desconfio que ele deva ter subido um pouco mais do que eu. Poucos instantes depois, a explosão vinda do buraco que acabei de saltar mostra a magnitude da onda. Olho para trás e o medo aflora. Montanhas de concreto vêm em minha direção e atrás delas uma cortina de água que chega a eclipsar o Sol. E meu grito não podia ser diferente: “Fudeeeuuuu!!!”. E pela primeira vez tenho noção da fração de dos instantes que se passaram.

Instantes eternos, por sinal. A cada bloco que não me acertava, uma chama de esperança de sobreviver acendia. A cada sombra do próximo, a mesma apagava. Logo, o que eu tinha era uma verdadeira boate. Ao sentir as primeiras gotas me atingirem, arrisco um olhar para cima, e vejo a Morte surfando. Não tenho mais escapatória, pois a onda me alcançou. Todas as lembranças passam na minha mente de uma única vez. Apenas um rosto fica. E sou capaz de ouvir o seu grito implorando para que eu não morra. É a última coisa que ouvi com clareza, pois depois disso, o silêncio reinou absoluto. Nada mais importava. O corpo, entregue ao instinto primal de sobrevivência, reage torcendo-se para não tomar o impacto de uma única vez. E o tempo não mais existe.

Se eu quisesse, poderia abraçar a cachoeira e cavalgar nela de tão perto que passou. Mas era tanta a quantidade de água caindo que tive minha interminável queda abreviada. E se não fosse pelas rochas que chovia ao meu redor, a minha vida também. Usando o vácuo da maior pedra que consegui alcançar, colei sobre ela e esperei a porrada na água. Escapar de um lugar que nem sei como fui chegar, depois de uma onda assassina oriunda do nada acompanhada de uma chuva de concreto, e agora sobreviver a essa queda sem fim é abusar demais da sorte. Só que eu nunca desisto, e quando surto e saio do controle, o meu corpo desconhece o significado disso. Cedo ou tarde, o impacto ocorre. Só que o tempo que isso leva não é mensurável.

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Última foto fornecida pela Flah, dona do blog Sparkler.

domingo, setembro 03, 2006

Tudo Por Um Anel - Capítulo 01


Bem vindos.

Não sei quanto a vocês, mas para mim é com bastante felicidade que quebro a garrafa para abrir oficialmente este local. E quebrar garrafas é comigo mesmo.

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“Quando se perde tempo demais olhando apenas em uma mesma direção, deixamos de ver o que há de melhor nas outras.” (Francis Karsaeras)

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If I jump in this fountain, will I be forgiven?
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Escuridão total. Não consigo enxergar absolutamente nada, sendo totalmente indiferente estar usando ou não os óculos escuros. Automaticamente aliso o meu pulso direito e lamento a falta de certo objeto. A indignação é automática. Prestando um pouco mais de atenção no ambiente, a umidade desse local é absurda, e isso é a única coisa que consigo ter certeza aqui. O barulho discreto de goteiras junto com o de água correndo de algum lugar para outro explica o porquê do frio e de eu estar todo encolhido em um canto qualquer. Com muita dor, me esforço para esticar as minhas pernas vagarosamente e assim saber se eu posso colocar os pés no chão. Oh, não, nem rola, está tudo alagado abaixo deste degrau. Ao tocar a ponta do pé direito na água gelada, um choque consome meu corpo e me remete uma avalanche de memórias que talvez indiquem como fui parar ali. Porém, elas vêm tão rápido que não consigo captar e processar. Enquanto isso, o tempo não indica o quanto correu.

Acordo agoniado buscando respirar. As vias respiratórias queimando de dor, caçando um ar que não vinha. Agora o desespero começa a se fazer presente, pois estou molhado até a alma, com um frio matador, e a cabeça está rodando a mil por hora. Além disso, continuo sem enxergar nada, o nariz está sangrando e não paro de cuspir água. Os músculos retesados se contraem cada vez mais para combater o frio. Só não terei câimbras porque o corpo arrepiado não para de tremer. Apesar de tudo e contrariando a vertigem, a qual insiste em me manter caído, luto para me por de pé e encontro a determinação necessária para descobrir uma saída desse buraco. Nem interessa mais saber onde eu estou, só quero mesmo é me mandar daqui. Torto, mas de pé, abro os braços e assim dou uns dez passos para esquerda. Nada. Volto para a posição inicial e faço o mesmo para a direita. Nada. Repito para frente e para trás e continuo na mesma. “Devo estar num salão bem grande!”, penso. Mas o tempo não indica o quanto correu.

No entanto, continuo a ouvir o sussurro de água correndo. Eu vou é para lá já que não tenho nada a perder mesmo. Afinal, se ficar parado aqui morro congelado, o que seria no mínimo irônico a alguém que faz apologia ao frio. Tentando seguir nas trevas um som que nem tenho idéia de onde vem e para onde deve ir, se é que realmente existe, ando tremendo de frio em uma direção ser o destino mais provável desse sussurro. Parece que a cada movimento, a cada passo, adentro ainda mais na escuridão de uma noite solitária cujo véu de sombras se pôs sobre mim. Enquanto meus dentes batem de frio, tento organizar nos meus pensamentos toda a bagunça que se formou. Imagens de centenas de pessoas voam pela minha cabeça dolorida, mas dentre tantas, algumas tornam a aparecer várias vezes nas mais diversas situações. Simpatia e afeição surgem por elas imediatamente. Mas quem são? E se as conheço, por que não lembro do nome delas? Engraçado, só uma dentre todas parece me ser tão especial que fica o tempo todo na minha cabeça. Gosto do sorriso dela, da cor de seus olhos e cabelo. Os gestos em que faz, até mesmo o tom de sua voz me agrada mais que qualquer outro que tenha lembrado. Sou capaz de recordar até mesmo o cheiro de seu perfume. Mas onde ela estará agora? No que estará pensando? Dou um sorriso, já que se nem sei onde estou, de que me adianta saber onde ela está. Contudo, o tempo não indica o quanto correu.

De repente, uma tristeza profunda me toma. Não por culpa de não entender o que faço aqui, mas por não estar perto desses os quais recordei. Pensamentos nefastos me assolam por conta do vazio que estou sentindo agora. Minha presença aqui é fruto da minha própria culpa. Por Deus, este sentimento me flagela o tempo todo é quase tão insuportável quanto à saudade súbita que sinto dela. Como eu desejo revê-la. Só mais uma vez, e não viver neste mundo assustador, escuro e frio. Droga, droga, droga. Então me abaixo levando as mãos à cabeça e permito que as lágrimas desçam com liberdade pelo rosto. Compulsivo, meus joelhos batem no fundo. A cabeça se curva, enfim me deixando rendido ao desespero total. Por um longo tempo me mantenho assim até recuperar o controle. Só então é que noto que a água está batendo em minhas costas suavemente, como se estivesse decidida a ir a uma direção. Ao levantar os olhos, um pequeno ponto de luz. Não dá para discernir a distância, mas saio desembalado naquela direção. Tanto eu quanto o tempo não sabemos o quanto corremos.